Números da Conab prejudicam a renda do produtor, afirma presidente da Aprosoja
Atualizada dia 30 jan 24
CUIABÁ - Mato Grosso enfrentou diversas ondas de calor e longos períodos de estiagem na safra de soja 2023/24, que influenciaram diretamente na produtividade da oleaginosa. Pesquisas feitas pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) e Aprosoja Brasil apontam uma redução de mais de 20% no Estado e mais de 12% em todo país.
Apesar dessa percepção de quebra expressiva, colhida por meio de pesquisas com os produtores, os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estão defasados, apontando uma “safra recorde” no País, em 155 milhões de toneladas. Para o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, a imprecisão dos dados oficiais tem prejudicado os agricultores.
Isto porque os números que mais refletem no mercado são os da Conab, pois são os números oficiais, apesar dos levantamentos das Aprosojas e de outras consultorias privadas apontarem para outro cenário. “No campo, todos os produtores discordam desses números da Conab e se mostram até revoltados, pois têm prejudicado muito a renda do agricultor”, afirma Lucas.
Em seu último levantamento, divulgado no dia 10 de janeiro, a Conab ainda indicava uma safra de 155 milhões de toneladas, 0,4% superior à produção alcançada na temporada anterior. Por outro lado, pesquisa feita pela Aprosoja Brasil, junto com as demais Aprosojas, apontam para uma produção de 135 milhões de toneladas, diferença de 20 milhões de toneladas.
A próxima divulgação de safra da Conab será dia 8 de fevereiro. Para o presidente da Aprosoja-MT, uma das formas de o governo ajudar o sojicultor a superar essa crise seria a alteração na metodologia de pesquisa da Conab, trazendo números que refletem melhor a realidade do campo para o mercado de commodities.
Lucas calcula que um eventual aumento na cotação da soja, na casa dos R$ 10 por saca, considerando uma produtividade de 50 sacas por hectare, injetaria R$ 22 bilhões a mais na economia brasileira. Já no cenário mato-grossense, o aumento seria de mais de R$ 6 bilhões, gerando mais movimento na economia e na geração de empregos.
“Nos preocupa muito a metodologia que a Conab tem usado para fazer esses levantamentos, já que o agricultor, que é quem melhor conhece a sua lavoura, não concorda com esses números. O que o governo pode fazer agora para iniciar ajudando o produtor é buscar uma nova metodologia, realinhar esses números com a realidade das lavouras, para que possa trazer justiça e preços coerentes”, destaca.
Nesta semana, a entidade inicia mais uma rodada de pesquisa junto a seus associados para levantar dados mais precisos da safra de soja em Mato Grosso.
COTAÇÃO EM QUEDA
Desde o início do plantio da soja em Mato Grosso, a cotação da soja caiu 18%, apontam os números do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em 15 de setembro de 2023, a soja disponível em Sorriso, maior produtor da oleaginosa no país, estava cotada em R$ 119, mas veio depreciando até chegar em R$ 97,50, na última sexta-feira (26.01).
Esse valor é insuficiente até mesmo para o cobrir seus custos de produção, o que deve fazer com que sojicultores de Mato Grosso enfrentem muitas dificuldades na safra. Na última semana, a Aprosoja-MT também enviou um ofício ao Mapa, com sugestões de medidas para amenizar a crise. (Ascom)
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Aprosoja envia ofício ao MAPA com sugesões (29/01/24)
CUIABÁ - A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) enviou um ofício à Secretaria de Política Agrícola do Ministério de Agricultura e Pecuária (SPA/Mapa) apresentando propostas para ajudar o produtor mato-grossense a superar os efeitos do clima adverso na safra 2023/24. O ofício foi enviado nessa sexta-feira (26) e é assinado pelo presidente da entidade, Lucas Costa Beber.
A associação sugere ao secretário de Política Agrícola, Neri Geller, a destinação de R$ 500 milhões do Tesouro para suportar o alongamento das dívidas dos produtores de Mato Grosso, conforme prevê o Manual de Crédito Rural (MCR). Propõe também a criação de duas linhas emergenciais de crédito, a primeira em dólar, no montante de US$ 1,95 bilhão via BNDES, com taxa de 5,5% ao ano, mais variação cambial.
A segunda linha de crédito proposta, em reais, estimada em R$ 1,05 bilhão de orçamento extra para equalização com recursos do Tesouro, com taxa de 7% ao ano. Para as duas linhas, a entidade sugere cinco anos de prazo e um ano de carência. Além disso, pede que as medidas não prejudiquem o limite e o rating dos produtores afetados, o que vai exigir celeridade na aprovação e liberação dos recursos.
A Aprosoja-MT também propõe que o Mapa coordene diálogos com as tradings para discutir as cláusulas denominadas washout, uma vez que há produtores com grandes perdas e não conseguirão entregar o produto negociado. A entidade requer que “os percentuais sejam reajustados, no mínimo, aos patamares a que essas companhias são submetidas em contratos internacionais”.
No ofício, também consta o pedido para o fortalecimento do Seguro Rural e o desenvolvimento de novos instrumentos de gestão de risco. O objetivo, diz o documento, é evitar que o Poder Público seja demandado no futuro a desembolsar grandes montantes para manter a agricultura viável, e por consequência, a economia do país.
De acordo com estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o agronegócio representa 24% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Segundo pesquisa da Aprosoja-MT, a safra de soja no estado deve ter uma quebra de 21%.
“Com uma importância expressiva para a balança comercial e a estabilidade da moeda, a cultura da soja precisa ter seus riscos melhor avaliados e cobertos por instrumentos de gestão. A ampliação da subvenção ao prêmio do seguro, hoje limitada a apenas 20%, e adequação do orçamento do Programa de Seguro Rural são medidas de curto prazo imprescindíveis”, diz.
O ofício também pede que a SPA atue pela extinção da Moratória da Soja, acordo comercial que proíbe a compra da soja produzida em áreas desmatadas após 2008 no bioma da Amazônia, mesmo que legalmente, se sobrepondo ao Código Florestal. “Produção sustentável é aquela que respeita o Código Florestal e que observa os ditames do art. 225 da Constituição Federal”, diz.
“Nesse sentido, a SPA [...] deve agir institucionalmente e até junto ao CADE para que esse acordo comercial deixe de gerar obstáculos ao nosso crescimento. Vale lembrar que o Banco do Brasil aderiu à Moratória e conta com grande volume de recursos do Tesouro para subvenções e equalizações da taxa de juros. Como a SPA lidera a construção do Plano Safra, sugerimos que após um diálogo junto com o banco, se este se recusar a sair da Moratória, que tais recursos federais sejam direcionados para aplicação por cooperativas de crédito”, completa.
A entidade finaliza o ofício deixando o caminho aberto para o diálogo com a SPA e se prontifica a colaborar com a construção de políticas públicas a partir do compartilhamento de mais informações.