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MP vai encarecer cesta básica e pesar no bolso do trabalhador

CUIABÁ - O presidente da Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Colheitas Especiais e Irrigantes de Mato Grosso (Aprofir), Hugo Garcia, fez um alerta nesta terça-feira (7), durante coletiva de imprensa em Cuiabá, sobre os impactos da Medida Provisória 1.300/2025, que altera as regras para a concessão de descontos na tarifa de energia elétrica utilizada na irrigação.

Segundo ele, a proposta, que transfere às concessionárias a responsabilidade por definir os horários de fornecimento com tarifa reduzida, pode inviabilizar o uso noturno da irrigação, prática considerada essencial para a produtividade agrícola em estados de clima quente, como Mato Grosso.

“A planta produz melhor à noite, quando está aberta, com os estômatos funcionando, pronta para absorver água e nutrientes. Durante o dia, sob calor intenso, a irrigação exige muito mais água e energia, o que aumenta custos, compromete o rendimento e ainda traz impacto ambiental”, explicou Garcia.

O dirigente criticou o fato de o setor produtivo não ter sido ouvido na construção da medida. Ele afirmou que, ao permitir que as distribuidoras determinem os horários do benefício, a MP abre espaço para que os descontos sejam aplicados nos períodos de maior geração solar, geralmente entre 10h e 16h, quando as condições de irrigação são as menos adequadas.

“Se isso acontecer, o irrigante vai ter que trabalhar justamente no horário mais quente, quando o consumo de água e energia é maior. Além de ineficiente para a planta, isso vai contra as boas práticas ambientais. A medida não tem critério agronômico e foi feita sem diálogo com o setor”, criticou.

Impacto no preço dos alimentos

Hugo também destacou que o aumento nos custos de produção causado pela mudança terá reflexos diretos na cesta básica. “Quanto mais cara for a energia, mais caro fica o feijão e, consequentemente, mais cara fica a cesta básica. Mato Grosso é o maior produtor de feijão irrigado do país. Se a produção aqui for inviabilizada, o preço dos alimentos sobe em todo o Brasil”, alertou o presidente da Aprofir.

De acordo com o diretor da entidade, Afrânio Migliari, a irrigação é responsável não apenas por garantir a estabilidade da produção de grãos, mas também por sustentar cadeias produtivas de frutas, verduras, leite e até aquicultura.

“Até a criação de camarões será afetada, porque o sistema de aeração que oxigena os tanques precisa funcionar à noite. Isso mostra que a MP impacta muito além do campo”, afirmou.

Setor busca diálogo

A Aprofir tem articulado com parlamentares e ministérios para buscar ajustes na medida provisória antes que ela seja regulamentada. A proposta da entidade é que os horários de irrigação com desconto sejam definidos de forma regionalizada, levando em conta as condições climáticas, de solo e de produção de cada estado.

“Estamos em contato direto com o Ministério de Minas e Energia, o Ministério do Desenvolvimento Regional e o Ministério da Agricultura, pedindo que o setor seja ouvido. Queremos sentar à mesa e discutir uma solução técnica e equilibrada”, afirmou o presidente da Aprofir.

Garcia lembrou ainda que a entidade tem apresentado dados e diagnósticos elaborados em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que apontam a importância da irrigação noturna para a eficiência hídrica e energética da produção no estado.

“Não somos contra ajustes, mas é preciso que as decisões sejam baseadas em critérios técnicos, e não apenas energéticos. O setor de irrigação é vital para a produção agrícola e para a segurança alimentar do país. A energia é parte essencial dessa equação”, concluiu Hugo Garcia. (Ascom)

 

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