Suposto golpe imobiliário em Querência se expande: Mais uma empresa ligada a empresário entra na investigação e vítimas relatam promessas de “atalhos” na Caixa
Atualizada em 02/10/2025
QUERÊNCIA (MT) — A investigação sobre o suposto esquema de estelionato imobiliário ganhou novos desdobramentos nesta semana, com o surgimento de novos boletins de ocorrência e a inclusão de um segundo empreendimento, identificado pelas iniciais S.F.I., no raio de apuração policial. Vítimas relatam que o empresário investigado, identificado por G.P.J., orientava clientes a comprar materiais em seus próprios nomes, prometendo quitar as notas. Na prática, parte do material não era entregue e, em diversos casos, o dinheiro repassado não se converteu em obra.
Segundo os relatos, o investigado prometia celeridade nos financiamentos por supostamente manter “contatos” na Caixa, o que facilitaria o andamento dos projetos. A agência de Canarana, responsável pelos contratos citados, informou a interessados que liberações de novas fases ocorrem após avanço físico comprovado, mencionando como referência a evolução mínima de 30%. Documentos públicos da Caixa confirmam que há vistorias de engenharia e liberação por etapas conforme o cronograma da obra, mas não estabelecem um percentual único aplicável a todas as linhas. Os marcos de medição variam por modalidade e contrato, ainda que materiais técnicos citem rotinas de acompanhamento e ciclos mensais entre liberações, o que demonstra que o engenheiro responsável, sabia do verdadeiro estado das obras, antes de solicitar novas liberações.
As denúncias também descrevem inadimplência do empresário em lojas de materiais de construção do município. Há casos em que apenas parte dos insumos foi entregue, seguida de adiamentos sucessivos do restante. Mesmo após registros policiais, algumas vítimas afirmam ter sido novamente procuradas para novos pedidos de quantias, sob o argumento de “destravar” a sequência das obras.
A reportagem mantém a identificação por iniciais — do investigado (G.P.J.) e das empresas citadas (A. I., S. J. E. e S. F. I.) — por respeito à LGPD e à presunção de inocência, enquanto o caso segue em apuração. A Polícia Judiciária Civil conduz o inquérito e pode adotar novas medidas à medida que surgirem elementos sobre eventuais responsabilidades civis e penais. A Caixa poderá realizar análises internas sobre os contratos e vistorias que embasaram liberações, caso solicitadas no curso da investigação.
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Golpe imobiliário em Querência revela série de fraudes e expõe falhas de fiscalização
QUERÊNCIA (MT) — O sonho da casa própria tornou-se pesadelo para alguns moradores do município após a descoberta de um esquema que, segundo relatos e documentos obtidos pela reportagem, combina contratos de construção, envio de imagens e documentos simulando avanço de obra, falsificação de assinaturas e até acesso indevido ao Portal Gov.br de vítimas para manipular processos de financiamento.
A Polícia Judiciária Civil apura o caso
Um boletim de ocorrência registrado em 29/09/2025 na Delegacia de Querência, obtido após repasse do documento pela vítima à nossa reportagem, apura em detalhes, como o suspeito que atua como empresário e identificado pelas iniciais G.P.J., teria atuado em estelionatos consumados. De acordo com o documento, o modus operandi consistia em “usar de boa conversa”, prometer execução rápida do projeto e apresentar justificativas técnicas para novos repasses, enquanto a construção permanecia inacabada.
Como o caso veio à tona
- Primeira vítima — Em 20/06/2024, o contratante assinou acordo para construção de uma residência e pagou R$ 20 mil de entrada, confiando no processo junto à Caixa Econômica Federal.
- Liberações e depósitos — À medida que o financiamento avançava, valores foram liberados na conta do suspeito, constando no B.O. repasses como R$ 45.775,95, além de transferências em 13/06/2025 (R$ 16.174,00), 24/06/2025 (R$ 34.211,00), 02/09/2025 (R$ 2.281,89) e 17/09/2025 (R$ 31.661,00), somando-se ainda R$ 15 mil em depósitos separados.
- Obra parada — Mesmo com valores que ultrapassam R$ 165 mil, a construção não foi concluída e permanecem “pendências construtivas”, conforme narra o registro policial.
- Indícios de falsidade — Chegou ao conhecimento de nossa reportagem, a existência de outros registros envolvendo o suspeito por estelionato e falsificação de documentos, situação compatível com os relatos de assinaturas falsificadas para dar seguimento a trâmites de projeto.
Fomos ainda informados, que o investigado, em alguns casos, acessava o Portal Gov.br de clientes, sem autorização, para “acompanhar” e intervir nos processos, o que, se confirmado, pode caracterizar invasão de dispositivo informático e outras infrações correlatas.
Placas de obra, “avanço físico” no papel e alvará inexistente
Relatos convergentes dão conta da instalação de placas nos terrenos (com menção a projeto, responsável técnico e número de registro profissional) sem qualquer atividade de obra. Em paralelo, imagens e documentos teriam sido enviados à Caixa como se o canteiro estivesse em andamento, aumentando as suspeitas de fraude.
A Prefeitura confirmou ainda, que não expediu alvará de construção para os casos verificados, embora haja protocolos administrativos em curso. Sem alvará, qualquer serviço é irregular. A inexistência de ART/RRT (Anotação de Responsabilidade Técnica/Registro de Responsabilidade Técnica) ou de alvará é um sinal de alerta que o consumidor deve checar antes de assinar contratos e realizar pagamentos.
Mais vítimas e prejuízo em cadeia
A reportagem apurou que ao menos outras seis pessoas procuraram a delegacia apontando golpes similares. Além de clientes, fornecedores de materiais de construção e prestadores de serviços relatam inadimplência, e há queixas sobre atraso de aluguel do imóvel onde funcionava o empreendimento.
Alguns contratos obtidos pela reportagem trazem, no cabeçalho, o versículo Mateus 6:33 — “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” — usado, segundo vítimas, como elemento de convencimento, em contraste com a realidade e descumprimento contratual narrada nos depoimentos.
Correspondente da Caixa e uso de documentos questionáveis
A empresa investigada seria correspondente autorizado da Caixa na cidade, atividade regular por si só, mas que, no contexto apurado, pode ter facilitado a inserção de documentos questionáveis em processos bancários, conferindo verniz de legitimidade a propostas e pedidos de liberação de recursos sem avanço físico real das obras.
Empresas citadas (siglas por cautela)
Os negócios foram formalizados sob razão social vinculada a A. I. e S. J. E.
Por que usamos iniciais? Em respeito à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e para preservar direitos de pessoas físicas e jurídicas enquanto há investigação em curso, adotamos identificação parcial. Essa prática busca evitar prejulgamento e exposição desnecessária de dados sensíveis até que as autoridades concluam as apurações.
O que diz o suspeito
O Notícias Interativa buscou ouvir o investigado. A assessoria informou que ele “está ajudando nas obras” e que só atende com horário marcado, o que impediu entrevista até o fechamento desta reportagem. O espaço permanece aberto para manifestação.
Alerta à comunidade: como identificar sinais de risco
- Exija alvará e ART/RRT — Solicite cópia do alvará municipal e da ART/RRT do responsável técnico (CREA/CAU). Confira autenticidade no site dos conselhos.
- Verifique o avanço físico — Não aceite fotos isoladas. Vá ao local e registre imagens datadas; compare com medições oficiais.
- Controle do seu Gov.br — Jamais compartilhe senha ou autorize terceiros a acessar seu Portal Gov.br. Ative dupla autenticação.
- Fluxo do financiamento — Repasses costumam seguir etapas e medições. Se liberações ocorrerem sem obra, procure a agência imediatamente.
- Contrato claro — Cláusulas sobre prazos, etapas, multa por atraso e garantias precisam estar explícitas.
- Pagamentos rastreáveis — Prefira transferências identificadas e nunca faça grandes adiantamentos sem garantias.
- Pesquise histórico — Consulte Procon, fóruns, cartórios e processos públicos. Múltiplas queixas semelhantes são forte indício de risco.
Enquadramentos legais em apuração
As condutas narradas podem configurar, a depender da prova, estelionato (art. 171 do CP), falsificação e uso de documento falso (arts. 297–304 do CP), além de eventuais crimes ligados a acesso indevido a conta eletrônica. A investigação policial vai delimitar responsabilidades civis e penais.
Serviço ao cidadão
Quem desconfia ter sido vítima deve registrar boletim de ocorrência, preservar toda a documentação (contratos, comprovantes, conversas, e-mails, fotos, prints do Gov.br) e procurar assistência jurídica. Procon e Defensoria Pública também podem orientar sobre medidas cíveis de ressarcimento.
Nota da Redação — A identificação por iniciais segue boas práticas de proteção de dados e presunção de inocência até o trânsito em julgado. Esta matéria será atualizada diante de novas manifestações oficiais ou decisões no inquérito.