História da BR-158 - avanços e desafios
VALE DO ARAGUAIA - A BR-158, uma das mais longas e estratégicas rodovias do Brasil, está prestes a escrever um novo capítulo em sua história no estado de Mato Grosso. Após mais de oito décadas de projetos, impasses e atrasos, as obras de pavimentação no chamado Contorno Leste da Terra Indígena Marãiwatsédé finalmente avançam, reacendendo a esperança de motoristas, produtores e moradores da região do Vale do Araguaia.
Com 3.964 quilômetros de extensão nacional e cerca de 800 quilômetros apenas em Mato Grosso, a BR-158 é essencial para o escoamento da produção agrícola do nordeste mato-grossense, especialmente soja, milho e algodão. Contudo, dos 800 quilômetros no estado, cerca de 200 ainda são de terra, concentrados entre Ribeirão Cascalheira, Alto Boa Vista e Vila Rica.
Um projeto iniciado nos anos 1940
Idealizada ainda no governo Getúlio Vargas, a BR-158 surgiu dentro da política de interiorização do país. Em Mato Grosso, sua construção começou na década de 1960 com a Fundação Brasil Central e a SUDECO, mas o asfaltamento avançou lentamente — muitas vezes em sentido inverso à abertura original. Entre os anos 1980 e 2020, apenas 240 quilômetros foram pavimentados de forma contínua, deixando longos trechos sujeitos a atoleiros, poeira e pontes de madeira em péssimo estado.
Grande impasse: Terra Indígena Marãiwatsédé
O maior obstáculo à conclusão da pavimentação sempre foi o trecho que corta a Terra Indígena Marãiwatsédé, habitada pelo povo Xavante. A área foi palco de conflitos fundiários e ambientais por décadas. Em 2021, a Justiça Federal determinou o fechamento do traçado original da rodovia dentro da reserva, alegando impactos ambientais e socioculturais severos. A solução encontrada foi a construção de um novo traçado, o Contorno Leste, que desvia 90 quilômetros a leste da terra indígena e liga os municípios de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Alto Boa Vista. O projeto prevê 195 quilômetros de nova pavimentação divididos em dois lotes.
Avanços e investimentos recentes
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o Contorno Leste recebeu licença ambiental do IBAMA em janeiro de 2025 e já tem 12 quilômetros em execução. Outros 86 km do Lote A estão licenciados e com previsão de início das obras nos próximos meses. O investimento total ultrapassa R$ 670 milhões, com recursos do Governo Federal e do Novo PAC, que destina R$ 60,6 bilhões para obras em Mato Grosso — R$ 24,3 bilhões apenas para o setor de transportes.
Rodovia assencial para o agronegócio
Cerca de 2 mil carretas trafegam diariamente pela BR-158 transportando grãos rumo aos portos do Arco Norte, no Pará e Maranhão. A rodovia é considerada um corredor estratégico para o escoamento da safra e para a competitividade do agronegócio mato-grossense. Em 2018, mais de 3 milhões de toneladas de soja e milho passaram por ela. Além do impacto econômico, a pavimentação completa promete reduzir custos logísticos em até 30%, melhorar o acesso a serviços públicos e fomentar o turismo regional. O Médio e Norte Araguaia terão mais de 2,4 milhões de hectares disponíveis para a produção de grãos na safra 2025/2026, segundo estimativa do IMEA - Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária. A produção ou é escoada pelo norte, via Pará, ou para o sul, pela estratégica BR-158.
Desafios persistem
Apesar do avanço das obras, os problemas continuam: pontes de madeira antigas, trechos críticos que se tornam intransitáveis na chuva e bloqueios ocasionais em áreas indígenas. O DNIT mantém equipes de manutenção emergencial com patrolamento, encascalhamento e recuperação de acessos. A previsão é que o Lote A do contorno seja concluído nos próximos anos, enquanto o Lote B ainda aguarda projeto executivo e licitação. Há também estudos para concessão à iniciativa privada do trecho entre Ribeirão Cascalheira (MT) e Marabá (PA), com investimento estimado em R$ 4 bilhões.
Símbolo de desenvolvimento e resistência
Para o ministro dos Transportes, a pavimentação da BR-158 representa 'cidadania e competitividade'. Já para os moradores do Araguaia, simboliza o fim de uma espera histórica por infraestrutura digna. Se concretizada, a obra da BR-158 será não apenas uma vitória da engenharia, mas um marco de reconciliação entre desenvolvimento econômico, respeito ambiental e direitos indígenas — um desafio que acompanha o Brasil desde os tempos de Vargas.
Fonte: Documento técnico “Implantação da BR-158 em Mato Grosso: História, Desafios e Situação Atual” (2025); DNIT; IBAMA; Agência Gov; Canal Rural; G1; FolhaMax/ IJMEA.