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Corremos o risco de consumir venenos - Artigo *

Chamou a atenção recente reportagem exibida em um programa dominical de televisão que mostrou cidadãos inescrupulosos comercializando produtos produzidos de forma tradicional e com altos resíduos de agrotóxicos, como se fossem produtos agroecológicos, produzidos de forma orgânica. Um acinte, um atento à saúde pública, reflexo de uma sociedade corrompida, que difunde a inversão de valores como regra. Estudos da OMS mostram que o brasileiro consome apenas 1/3 do recomendado em frutas e hortaliças, necessitando portanto triplicar o consumo.Luiz Omar Pichetti 2
Paradoxalmente, o Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos-PARA, conclui que 22% dos hortifrútis, estão contaminados. Isso nos permite formular a seguinte hipótese: na conjuntura atual, ao se promover o consumo de frutas e hortaliças, estamos obtendo um efeito inverso aqueles apregoados pelas políticas públicas, baseadas na promoção da saúde, configurando-se assim um quadro de insegurança alimentar.
É possível reverter essa tendência?
Obviamente que sim, desde que o uso de agrotóxicos seja feito de modo racional, priorizando-se o manejo integrado de pragas e doenças, com rigorosa observação da Legislação. Dentre as principais ações a observar, destacamos o período de carência dos agrotóxicos que é o intervalo, em dias, a ser levado em conta pelo produtor rural, entre a última aplicação e a colheita.
Este prazo deve ser determinado com clareza pelo Engenheiro Agronômico que prescreveu o Receituário Agronômico e ser seguido à risca pelo agricultor. Desta forma, teremos a garantia que o produto colhido não apresentará resíduos de agrotóxico acima dos limites máximo estabelecido em Lei. Aqui cabe lembrar que produtos agrícolas colhidos com limites de resíduos acima daqueles permitidos são considerados ilegais, possibilitando que a produção seja apreendida e destruída, implicando em processos e multas para o produtor.
Outro agravante diz respeito às elevadas quantias de agrotóxicos utilizadas na produção de frutas e hortaliças, que segundos estudos confiáveis, utilizam 19,75% dos ingredientes ativos consumidos no Brasil demandando um consumo 8 (oito) vezes maior que a cultura da soja, por hectare
Para reverter este quadro, existem enormes desafios a enfrentar pela sociedade em geral e, em especial pelo poder público. É necessário ampliar o debate acerca do modelo de agricultura adotado no país; orientar e conscientizar os produtores de alimentos para o cumprimento da legislação vigente; monitorar os alimentos produzidos, através de frequentes análises laboratoriais e buscar práticas agronômicas que respeitem o meio-ambiente e assegurem a produção de alimentos saudáveis.
É preciso uma mudança radical de paradigmas em relação a produção de alimentos de origem vegetal, do contrário, estaremos ingerindo venenos, com inestimáveis riscos à saúde.

* Escrito por Luiz Omar Pichetti - Presidente da Associação Engenheiros Agrônomos

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